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Você acredita em milagre?

por Isa
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Esse foi o título do texto que recebi do Rodrigo, pai do Arthur, e que conta sua trajetória de dor, perda, amor, dedicação, superação e ressignificação. Prepare o lencinho porque o texto reproduzido abaixo é emocionante.

Por Rodrigo Segantini, pai do Arthur.

Se você não acredita em milagre, depois de ler essa história, você passará a acreditar.

A gravidez

Descobrimos que a Adriana estava grávida de gêmeos em março de 2009 e isso me deixou pessoalmente muito feliz: a expectativa de duas crias de uma vez, se seria menino ou menina, se seria parecido comigo ou com ela. Uma alegria enorme que logo foi baqueada com a notícia da gravidade da situação: por causa de miomas uterinos, os bebês poderiam ter dificuldades e foi recomendado repouso absoluto para minha esposa.

De fato, no comecinho do terceiro mês, um dos gêmeos ficou para trás e seguiu-se então a gestação só do Arthur. Em meados do quarto mês, tive um sonho em que eu o encontrei: era um menininho ruivo, de olhos pretos e olhar alegre e penetrante, risonho e com algumas pintinhas no rosto, parecendo ter uns cinco, seis anos. No sonho, ele vinha me acordar de manhã para irmos jogar bola, mas a mensagem que parecia estar sendo registrada em meu coração era que enfrentaríamos muitas dificuldades, mas superaríamos juntos a tudo.

Mal sabia que o que o Arthur disse para mim no sonho era verdade. Exames de imagens apontavam que meu filho tinha uma má formação no coração, o que, aliado à idade da Adriana e a translucência nucal, poderia representar que ele teria algum problema de saúde. Ficamos muito apreensivos porque queríamos saber o que poderíamos fazer e como deveríamos nos preparar para melhor acolher nosso bebê e decidimos não contar nada a ninguém até ter certeza do que estava acontecendo. Isso nos entristecia demais.

Por causa da gravidez, eu e a Adriana resolvemos oficializar nossa união em uma cerimônia simples no cartório, apenas para nossos pais e irmãos. Presente estava Pedro Sant’anna, um pastor amigo meu, que disse que, naquele momento, como presente de casamento, Deus trazia a cura para o coração do nosso filho porque ele teria uma missão muito linda em sua vida.

Ficamos assustados: ninguém sabia que o Arthur poderia ter algum problema de coração. A partir do dia seguinte, nenhum médico conseguiu encontrar mais nada no coração do Arthur e não sabiam explicar o que poderia ter havido. Mas eu e a Adriana sabíamos o que tinha acontecido.

Sua bolsa foi rota antes da hora e até foi tentado fazer a Adriana segurar a gravidez com a ajuda de remédios. Apesar de tudo, o parto teve que ser antecipado para o primeiro dia da 30a semana. Arthur nasceu pesando 1,530kg (1+5+3+0=9), medindo 45cm (4+5=9), no dia 09/09/09, às 08h10 (0+8+1+0=9). O único nove que ele precisava ter ele não tinha: ele não nasceu de nove meses, mas de sete.

Os primeiros meses de vida do meu filho

Durante o parto, não fiquei no centro cirúrgico para não atrapalhar a equipe médica, já que os médicos diziam que seria uma operação difícil. Nascido, Arthur já foi colocado em uma incubadora e levado para a UTI Neo. Nem eu, nem minha esposa pegamos nosso filho no colo.

Tudo parecia dentro do esperado, estávamos esperando os pulmõezinhos maturarem. Até que veio a notícia de que ele desenvolvera uma infecção. Uma semana depois de nascido, Arthur passou por uma cirurgia no intestino, o diagnóstico era enterocolite. Abriram meu filho no meio, arrancaram um tanto das tripas dele e disseram que o problema estava resolvido.

Não estava. Uma semana depois, o problema voltou. A enterocolite havia tomado outro pedaço do intestino. Outra cirurgia, outro tanto de tripas arrancadas e uma novidade: fizeram uma ileostomia, deixando o intestino delgado para fora. Disseram os médicos que isso poderia ajudar a prevenir um novo avanço da enterocolite.

Não impediu. Uma semana depois, o Arthur passou pela terceira cirurgia e, no dia seguinte, pela quarta. O cirurgião nos chamou na UTI. Era 29 de setembro e ele disse que havia feito tudo pelo Arthur, mas achava que deveríamos nos preparar para o pior. Neste momento, olhei de relance e vi a equipe de intensivistas em cima da incubadora do meu filho, enquanto ouvia aquele barulho uníssono e monocórdio que sinaliza o fim da vida. Saímos de lá e já fui resolver como seria o velório e o enterro do meu filho enquanto tinha cabeça para isso.

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Mas, surpreendentemente, o Arthur seguiu por mais uma semana. O problema foram os rins, que estavam dando sinais de não suportarem mais os antibióticos que eram administrados no combate à bactéria que vinha causando a enterocolite. Os indicadores laboratoriais já vinham indicando que meu filho estava próximo da falência renal.

No dia 10 de outubro, os rins dele pararam. Fomos avisados: se os rins ficassem parados por mais de 36 horas, seria o fim. Paulo Belmonte, um outro pastor amigo meu, disse que um milagre aconteceria se provássemos nossa Fé em Cristo. Eu e a Adriana sempre orávamos sobre a incubadora do Arthur, mas, em 11 de outubro, oramos enquanto chorávamos. E um milagre aconteceu: os rins do Arthur voltaram a funcionar na nossa frente, ele urinou durante três horas seguidas o que ele tinha urinado nas trinta horas anteriores.

Finalmente, no dia 26 de outubro, pudemos pegar o Arthur. Foi uma das maiores emoções da minha vida. Com o olhar dele pousado sobre o meu, tive certeza que ali estava o maior amor da minha vida e entendi, naquele exato instante, que eu fui completamente esvaziado de mim para ser elevado à condição do pai dele.

Ficamos ainda mais algum tempo no hospital. Eu e a minha esposa aprendemos algumas técnicas de cuidados e enfermagem para poder socorrer o Arthur e para lidar com aquele monte de equipamentos aos quais ele ficava ligado. Depois de ter sido arrancado do meu filho metade de seu intestino delgado, depois de ele ter uma parada cardiorrespiratória de quase dois minutos e de ele ter sofrido duas paradas renais de mais de trinta horas, a ileostomia foi desfeita e a gente pode ir para casa. O tempo que ficamos no hospital desde o nascimento do Arthur foi de quatro meses, quase integralmente na UTI Neo.

O acidente da minha esposa e sua partida

Durante os três primeiros anos de vida, Arthur teve muitas limitações. Ele, que nunca pôde tomar leite materno, se alimentou por um preparado nutricional especial importado por três anos. Mesmo assim, ele era muito ruim para ganhar peso, já que, porque só tinha metade do intestino, seu trânsito digestivo era mais rápido e tinha pouca absorção. Mais lento que as outras crianças, ainda assim meu filho ia crescendo, ficando fortinho, aprendendo a andar, a falar e, quando ele tinha três anos, pareceu que as coisas iriam entrar nos eixos. Só que não.

Em 03 de abril de 2013, minha esposa me ligou. Sou advogado e ela quis tirar uma dúvida sobre determinado processo trabalhista dela, que vinha sendo cuidado por um colega.

Porque não pude ajudá-la, ela se ressentiu. Não me importei porque, dois dias antes, ela fez uma brincadeira sem graça comigo, em razão do dia da mentira, dizendo que o Arthur teria quebrado a perna. Conversamos friamente e desligamos o telefone sem emoção.

Quase uma hora depois, sou informado que ela teria sofrido um acidente automobilístico na estrada, longe cerca de 80km de onde eu estava, porque ela estava viajando a trabalho. Voei até onde me disseram que o acidente teria acontecido e deu tempo de ver a ambulância partindo para levá-la ao hospital, de tão rápido que me desloquei.

A polícia rodoviária me explicou o que houve: por algum motivo que ninguém soube dizer, já que ninguém viu o acidente, ela saiu da pista e bateu em uma árvore. Sinceramente, nunca me preocupei em saber o que a tirou da estrada, estava mais preocupado em resolver a situação da minha esposa. Cheguei no hospital praticamente junto com a ambulância, apesar de não conhecer o trânsito daquela cidade. Realmente, eu estava sendo guiado por anjos que, de alguma forma, levavam meu carro por onde precisava ir.

Eu a vi sendo retirada da ambulância e me dei conta da gravidade do acidente, o que os médicos que a atenderam confirmaram algumas horas depois da entrada dela no hospital: ela sofreu cinco fraturas, todas no crânio; o cérebro, pelo chacoalhão, sofreu uma lesão difusa; e o pulmão se machucou pela pancada do peito no volante – e estava em coma.

Decidi que não me afastaria do lado dela. Avisei minha secretária e meus amigos mais próximos e, durante um mês, não sai de perto dela, passei o tempo todo orando, recitando hinos e cantando músicas que eu e ela gostávamos, enquanto aguardava reportes médicos sobre sua evolução. Não trabalhei, não vi meu filho. Só queria saber dela, só vivi por ela.

Apenas depois que minha esposa foi transferida para São Paulo, onde pensamos que ela poderia receber um tratamento que possibilitasse sua recuperação plena e mais rápido, é que tentei voltar para casa e para o trabalho. A partir junho de 2013 em diante, eu passava quatro dias com a Adriana, dois dias trabalhando e focado na minha profissão e um dia exclusivamente para ser o pai do Arthur.

Acredito sinceramente que a Adriana apresentava reações ainda que precariamente, pois não conseguia ficar desperta, passando a maior parte do tempo dormindo. Além disso, seu corpo ficou retesado e a única parte que ela conseguia movimentar era o olho esquerdo, mais nada. Os médicos diziam que era o que chamam de coma vigil ou estado rebaixado de consciência, quando não dá para saber se a pessoa está consciente ou não. Nunca deixei de acreditar que ela estava consciente e tentava se comunicar. Para isso, um olho, um olho apenas era mais do que suficiente. Jamais desisti dela, fiquei a seu lado o tempo todo, orando e tentando estimulá-la, seguindo as orientações dos profissionais que a assistiam.

Até que, em outubro, meu filho me perguntou porque eu ficava no hospital, já que não estava doente. Expliquei a ele que ficava no hospital para cuidar da mamãe. Foi aí que ele me deu sua primeira apunhalada: e quem cuidaria dele? Tentei argumentar que a vovó, mãe de minha esposa, cuidaria dele enquanto precisássemos de sua ajuda. Ele me deu sua segunda  apunhalada:

Arthur pediu para que eu voltasse para casa para ficar com ele. Claramente, aquele menininho entendia que tinha que ficar longe da mãe porque ela estava doente, mas não entendia  porque também tinha que ficar longe do pai.

Então, me organizei para poder voltar para casa. Conversei com colegas de profissão e avisei que, aos poucos, iria ficar cada vez menos no escritório até que minha presença não fosse mais necessária e eu pudesse só trabalhar de casa. Conversei com a família da minha esposa e avisei que não ficaria mais tanto tempo no hospital pois voltaria para casa. Passei a procurar trabalhos em minha cidade que não exigissem cumprimento de horário para que eu pudesse ficar com meu filho.

A partir de 18 de janeiro de 2014, minha vida passou a ser o Arthur, só o Arthur.

Passei a ir a viajar a São Paulo para visitar a Adriana uma vez a cada quinze dias, oportunidade em que levava o Arthur comigo. Ele viu a mãe enferma e acamada, eu explicava para ele o que tinha acontecido, jamais escondi nada dele. Nestas ocasiões, orávamos ao lado dela e conversávamos com ela, contando o que havia acontecido conosco naquele intervalo – e voltávamos para casa, eu com o coração partido.

Em casa, eu e o Arthur brincávamos juntos, estudávamos juntos e víamos fotos e filmes da família para ele manter a memória da mãe. Como quando o Arthur nasceu ele teve muitos problemas e fiz (sem exagero) milhares de registro em fotos e vídeos nossos, com medo de perdê-lo e na tentativa de guardar a presença de sua lembrança entre nós. Foram tais fotos e vídeos que permitiram que eu construísse a lembrança do Arthur sobre sua mãe e a mantivesse presente em suas memórias.

Quando minha esposa faleceu, em 22 de julho de 2014, eu e o Arthur não ficamos tristes – ficamos gratos. Enlutado eu já tinha ficado no tempo do acidente e tudo o que houve depois. Agora, estávamos agradecidos por ela ter lutado tanto e por tanto tempo para seguir conosco, para permanecer a nosso lado. Porém, sabíamos que ela merecia descansar e que era melhor que ela partisse de volta para casa.

Jamais deixei o Arthur ver minha tristeza. Jamais deixei ele me ver chorando.

Sempre que ele estava por perto, buscava usar camisetas com emblemas de super-heróis, para que ele identificasse em mim a alusão que tais escudos provocam a respeito de força e coragem. Consegui que Arthur passasse incólume a todo o vendaval que devastou nossas vidas desde o acidente que levou minha esposa ao coma.

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Tudo pelo meu filho

Eu e o Arthur temos seguido sozinhos desde a partida da minha esposa, em julho de 2014. Porque eu exercia a parentalidade sozinho, meu filho passou a fiar totalmente seu amor

e o vínculo entre nós, que já era muito forte, firme e estreito, se tornou brilhante e bonito. Ele é ruivinho, chama a atenção por onde passa e isso fez com que todos ao nosso redor se admirassem com nossa convivência. Muitas pessoas me buscavam pedindo orientação, conselhos e ajuda para superação de luto e perdas e também assuntos de família e relacionamentos em geral.

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Em uma quinta-feira de maio de 2016, Arthur me deu a lembrancinha que fez na escola em razão do dia das mães, dizendo: “você não é minha mãe, mas não é só o meu pai: você é minha família”. Não resisti, fotografei o momento, mas achei que merecia uma postagem em meu perfil em uma rede social. Em questão de minutos, dezenas de pessoas começaram a curtir e comentar. Fiquei surpreso com o alcance de uma postagenzinha a meu ver tão delicada e sutil.

De repente, pouquíssimo tempo depois, recebi uma mensagem em privado de uma repórter do UOL pedindo para fazer uma reportagem a respeito. A matéria foi publicada no portal do UOL na véspera do dia das mães. Ficamos na capa, entre as cinco reportagens mais lidas.

Recebi milhares de solicitações de amizade em meu perfil e muitas pessoas enviaram mensagens nos saudando, cumprimentando e, como sempre, pedindo orientação, ajuda e conselhos.

Decidi fazer uma página no Facebook para preservar meu perfil pessoal.

Assim, não exporia minha família, minha vida privada e poderia acolher a todos que estavam me buscando. Passamos a fazer postagens a respeito de nosso cotidiano, das lições de vida que extraímos de nossas vivências e também histórias de nossos seguidores que nos impressionam e serviriam de inspiração a todos que nos acompanham. Era algo despretensioso, mas para nossa surpresa essa pagininha despretensiosa começou a chamar a atenção das pessoas.

No boca-a-boca, o público começou a crescer de forma espantosa: alcançamos 100 mil seguidores após seis meses no ar, fechamos o primeiro ano com mais de 200 mil seguidores e agora temos mais de 340 mil pessoas nos seguindo. Neste ínterim, fizemos um perfil no Instagram, que está com quase 11,5 mil seguidores e um canal no YouTube com mais de 500 assinantes. Alcançamos diariamente milhares de pessoas, recebemos centenas de interações e dezenas de mensagens. Cada postagem nossa chega a tanta gente que nem sabemos calcular!

Estamos entre os dez principais perfis sobre Família & Relacionamentos no Facebook e sempre somos procurados para fazermos parcerias comerciais. Eu e o Arthur, no entanto, não vendemos nossa história. O que a gente gosta é de chegar nas pessoas, contar nossa experiência e ajudar quem precisa. Nunca negamos uma palavra a quem nos procurou e quando somos convidados a falar a respeito dos temas que tratamos sempre damos um jeito de atender. Ainda consideramos escrever um livro para narrar tudo o que vivemos.

Aliás, sobre a ideia de um livro, em na madrugada para amanhecer 05 de julho de 2013, quando a Adriana ainda estava internada em coma em São Paulo, cochilando entre uma oração e outra, tive um sonho. Nele, um anjo me disse: “Você deve transformar sua dor em testemunho para que se torne luz para iluminar a escuridão onde estão os que passam pelo mesmo caminho que vocês”. Talvez, na verdade, seja isso: essa é nossa forma de tentar tornar o mundo um lugar melhor, transformando dor em amor, fé e esperança. Arthur é meu milagre, meu presente de Deus e minha esperança no futuro.

Você acredita em milagres? Eu vivi milagres. Vi tantos que não tenho como não acreditar. Você não precisa acreditar em milagres, mas eu gostaria que conhecesse nossa história.

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Rodrigo Segantini é pai do Arthur. Nas horas vagas, também é advogado e professor universitário, especialista em Direito Administrativo e em Direito do Trabalho e mestre em Psicologia & Saúde. Mantém junto com seu filho o perfil “Tudo pelo meu filho” no Instagram, no Facebook e no YouTube.

 

Lembrou de alguém que vai se inspirar com essa história? Envie o texto para ela!

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