A gestação do Felipe foi bem tranquila. Não senti absolutamente nenhum desconforto, além do sono excessivo nas primeiras semanas de gravidez – tenho até uma teoria para isso, acho que é o nosso sábio corpo fazendo um banco de horas de sono e nos preparando para a pedreira dos primeiros meses com o bebê. Nada de enjôos, nenhuma indisposição, nenhuma dor de cabeça. Nadinha, só alegria.
Felipe sempre ganhou peso de acordo com o período gestacional e tudo corria muito bem. Só que com um ano e meio de vida eu operei o coração para corrigir Comunicação Interventricular (CIV). Então a minha gestação foi acompanhada mês a mês por uma cardiologista, que em consenso com a obstetra não recomendava no meu caso o parto normal por conta do esforço excessivo para o meu coração “recauchutado”.
Fato é que com 28 semanas Felipe encaixou na pélvis, já em posição para o parto normal. Desde os seis meses eu sentia as contrações de treinamento (Braxton Hicks), indicando que o meu corpo se preparava para parir.
Com 32 semanas precisei fazer uma visita de emergência na Perinatal. Estava trabalhando quando senti dores muito fortes, como se fossem cólicas e uma pressão na lombar. Chegando à maternidade, a médica plantonista fez o exame de toque e constatou que eu não tinha dilatação. Também fizeram exame de urina para afastar qualquer infecção urinária (que pode provocar abortos, ou no meu caso à altura da gravidez, parto prematuro). Contudo, as contrações de fato existiam.
Liberada com todos os exames laboratoriais e clínicos, recebi o medicamento para dores e fiquei uma semana em repouso para que Felipe ficasse o maior tempo possível dentro da melhor incubadora que existe: a minha barriga.
Fui à minha médica, que diante do risco de parto prematuro, decidiu que eu deveria injetar duas doses do corticoide Celestone com intervalo de 24 horas entre elas para amadurecer o pulmão do feto.
Comprei o medicamento em uma farmácia e fui à clínica na qual minha irmã, que é fisioterapeuta, trabalha para aplicar nas nádegas. O local ficou dolorido por dois dias, mas nada que não fosse suportável.
A injeção de Celestone deve ser feita entre 28 e 34 semanas de gestação. Tem o intuito de reduzir as complicações neonatais associadas ao nascimento prematuro. Mães grávidas de múltiplos também recebem a recomendação de aplicar o corticoide por conta da probabilidade de parto prematuro. Esta prática comprovadamente reduz a necessidade de internamento dos recém-nascidos por diminuir os seus problemas respiratórios.
Se a mãe em trabalho de parto prematuro não usar o corticoide, o recém-nascido pode apresentar a Doença da Membrana Hialina. Com essa doença, a respiração torna-se extremamente difícil e, se o problema não for tratado com surfactante, o bebê poderá morrer por insuficiência respiratória.
A partir daí precisei reduzir o ritmo de trabalho (fui ao escritório até 15 dias antes do parto) e toda semana fazia acompanhamento com ultrassonografia para conferir a maturidade da placenta.
A ideia era que a cesariana fosse marcada o mais próximo possível da data em que eu provavelmente entraria em trabalho de parto. Foi assim que, com 37 semanas e 6 dias, já com o exame de imagem bem dolorido e difícil porque Felipe estava já muito embaixo, encaixado para nascer, que a médica radiologista identificou a placenta grau 3, com maturidade suficiente para que o bebê fosse “expulso”.
O parto foi marcado para o dia seguinte, exatamente com 38 semanas, quando já não havia mais risco para o bebê. Felipe nasceu superbem, ganhou pontuação 9,0 no teste de Apgar. E eu nunca tive nenhuma reação ao corticoide administrado.
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