A gente passeia pela Lagoa e eu te conto que ali já foi cheio de casas que foram removidas. Falo sobre o PDBG. Mostro a vegetação. Explico sobre a mortandade de peixes. Vamos ao Jardim Botânico. Você dorme enquanto explico que foi feito por Pedro II e que as palmeiras imperiais não são nativas, mas acorda para ver a Vitória-régia. Você foca nas duas réplicas de Picasso que temos na parede de casa. Então te digo que um é parte da Guernica. Conto sobre a Guerra Civil espanhola. Prometo que um dia vou te levar ao Reina Sofia e você verá de perto.
Pegamos um avião e mamãe mostra tudo ficando pequeno lá embaixo. Mostra as nuvens. Fala sobre SP, ruma BH e discursa sobre a política em Minas Gerais desde a oligarquia Café com Leite até os dias de hoje.
Você sabe que o papai chegará às 19h e que 20h tem banho com ele para dormir. Se isso não acontece é motivo de fúria. Já sabemos que você puxou a ele e tem ótimo humor pela manhã. Distribui sorrisos e simpatia. Você adora passear na rua e fica nervoso se não saímos de casa até 10h. Você dorme durante o passeio matinal e acorda na porta de casa. Mamãe diz que você é um ator, vai ganhar o Oscar! Você gosta de ouvir as histórias que conto fazendo vozes diferentes. Você sabe que eu inventei uma voz para você e que eu mesma pergunto e respondo. Tenho procuração para isso, afinal!
Invento músicas para você. Temos um repertório próprio, só nosso. Eu coloco você no espelho e você acha graça. Se descobre e sorri.
Você é vaidoso e se enche todo quando digo que está lindo. Acha engraçado eu dizer que sou viciada nesse chulezinho. No seu pescocinho azedo de leite golfado. No cheiro do hidratante que passo em você. No cheirinho do xampu do seu cabelinho. Você mama avidamente e coloca as duas mãozinhas para segurar meus peitos. Ou passeia com elas por mim fazendo carinho e me olhando com esses olhos cheios de ternura. Você termina de mamar e se aninha de grudinho no meus braços. Eu te abraço e encosto a minha bochecha na sua.
Você descobriu as suas mãos e quer segurar tudo. Quer balançar todos os móbiles e qualquer coisa que faça barulho quando chacoalha. Você ainda não virou, apesar dos nossos exercícios diários no tapetinho. Tudo bem, faz no seu tempo!
Se eu saio sem você é um escândalo. Volto e você sorri para mim. Eu te pego morrendo de vontade de te abraçar. Você não gosta de chupeta. Não gosta de mamadeira. Não gosta de enganação, só quer a mamãe. Temos um problema aí, sabemos. Eu finjo que não gosto mas no fundo me encho de amor. Mamãe já consegue identificar se seu choro é fome, fralda molhada, arroto preso ou sono. Já sabe que quando você tem soluço é frio. Soube até que um choro mais agudo foi uma cólica que nos pegou desprevenidos depois dos três meses. Você raramente dorme mais de cinco horas seguidas na madrugada e quando isso acontece, em vez de dormir eu acordo com saudade, checo sua respiração e fico te admirando. Às vezes você desperta antes do horário da mamada só para ganhar um carinho e um embalo no meu colo.
Somos apaixonados, eu sei. Feliz quatro meses, meu amor!
*Carta escrita em 8/06/2017
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