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Relato: o desmame do Felipe

por Thainá Halac
Foto: Renata Missagia

Era um sábado de manhã e resolvi tentar iniciar de fato o desmame. Estávamos somente nós dois, deixei que ele mamasse os dois peitos o tempo que quisesse. Fui fazendo carinho, dizendo a ele o quanto eu tinha sido feliz por ter tido a oportunidade de nutrir, aconchegar, acalmar, amar com o meu corpo. Acolhido em mim, com as mãos me fazendo carinho, olhando nos meus olhos. Não segurei as lágrimas porque o coração apertava. Agradeci a ele por todos os nossos momentos naquele quarto, naquela casa, quando eu sabia que o meu peito era o porto seguro dele.

Sabia que era a hora de parar. Eu não estava pronta ainda – será que algum dia estaria? – e me questionava se aquele ainda bebê de dois anos e quatro meses já estava. Levantei, passei a pomada para cicatrizar o bico que estava muito machucado depois de uma madrugada inteira amamentando. Quando ele pediu novamente eu expliquei que a mamãe tinha se machucado e que precisávamos esperar a recuperação do peito. Ele entendeu e foi brincar.

Quando teve o impulso de pedir novamente, à noite para dormir, só perguntou se já podia, eu disse que ainda não. Mas disse que a mamãe podia ficar ali com ele, fazer carinho até ele adormecer. Ele se aconchegou em mim. Demorou mais do que de costume e dormiu. Despertou na madrugada, procurou o carinho e dormiu novamente.

Com três dias sem amamentar o meu leite secou. Sem tomar remédio, nada. Apenas com a falta do estímulo. Felipe não procurou mais o peito para mamar e eu estou morrendo de orgulho da maturidade do meu menino. Nós subestimamos muito as nossas crianças. Eles absorvem tudo, compreendem, participam. E nos surpreendem.

Já são 30 dias sem mamar e eu posso considerar que o desmame foi concluído. Sem choro, sem traumas. Com inseguranças e medos, como tudo na vida. Da melhor maneira que poderia acontecer, com as melhores memórias construídas.

Agradeço muito ao meu filho por ter tido a paciência necessária com uma mãe iniciante sem jeito, que nem sabia como segurar um bebê que queria se alimentar. Valeu cada esforço, cada bico rachado, cada chupeta e mamadeira recusada, todas as madrugadas sem dormir. Foi difícil, mas conseguimos. Vou sentir saudade e lembrar sempre com muito carinho. Obrigada por tanto, Felipe.

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