Breve Introdução
Nesse texto, uma querida amiga divide conosco a sua experiência: o desejo de ser mãe, a perda de uma gravidez, as tentativas e o tratamento de fertilização in vitro. Apenas o começo de uma grande história!
Rosane é amiga de longa data e emana boas energias por onde passa. É daquelas que todos gostam! Profissional competente, empreendedora, dedicada, minha confidente, bem-humorada e companheira de muitos chopes e risadas! Uma felicidade para nós tê-la aqui dividindo um pouco de sua história. MUITO OBRIGADA!
Desejos
Sempre quis ser mãe. E nunca tive dúvidas que o meu caminho seria construir uma família. Na infância imaginava a casa cheia, crianças correndo por todos os lados e aquele aconchego gostoso de lar. Eu tive duas oportunidades, mas era praticamente uma criança e tive medo. Dentro dos meus conflitos de imperfeição escondi de tudo e de todos, e segui minha vida, tentando apagar da memória essa lembrança.
E a vida foi seguindo… formatura, trabalho, intercambio, viagens, carreira, estudo, aqueles pequenos sonhos de consumo em que gastamos tanta energia, e como sempre fui controladora e planejada, usei por longos anos métodos contraceptivos que evitaram uma gravidez inesperada.
Em 2011 veio o encontro com minha alma gêmea e em 2015 o casamento. Enfim, uma vida como manda o figurino, sem atropelos, nem desesperos e bem estruturada.
Fui chamada para trabalhar no projeto olímpico e após pensar e analisar o meu futuro resolvi aceitar. Eu sabia que essa decisão implicaria em adiar por mais alguns anos a maternidade, e mais uma vez, meu lado planejador excessivo estabeleceu que aguardaria até o fim do projeto para usufruir com muita dedicação da maternidade tão desejada.
Fiz reservas, imaginei mudanças no meu dia-a-dia, pensei em mudar de profissão, tudo para que pudesse vivenciar de forma profunda e integral a maternidade, acompanhar de perto o crescimento do meu filho e contribuir diariamente no seu processo educativo, que eu acho um grande barato. Tudo isso quando o projeto chegasse ao fim!
Mas o inesperado aconteceu e em 2015, logo após o casamento, ainda trabalhando, engravidei. Passado o susto inicial da novidade não planejada, ficamos eufóricos. Curti os novos planos e aceitei que ia ficar tudo bem. Mas poucos meses depois recebemos a triste notícia que o embrião não se desenvolveu. Senti uma tristeza profunda, mas tinha a certeza de que algo melhor estava por vir. Sofremos sozinhos, calados, nos apoiando um no outro, mas superamos a dor da perda, que foi muito profunda.
Os dias seguiram, os meses passaram. Finalizei o projeto em outubro de 2016 e finalmente me sentia plena para ser mãe, apenas mãe, com dedicação total e exclusiva para realizar meu grande sonho. E eis que a vida nos dá aquela chacoalhada e nos mostra que ela não está descrita numa planilha de excell. Passou 1, 2, 3 meses e nada. 6 meses, 1 ano.
Nesse período, muita gravidez apareceu em minha volta: algumas desejadas, outras nem tanto, a maior parte delas inesperadas. E eu me questionando o que estava fazendo de errado, o que estava acontecendo para que o meu grande sonho não fosse concretizado. Passei por momentos de muito medo, tristeza profunda, depressão, culpas e muitos conflitos internos.
Mergulhei num processo de autoconhecimento, de entendimento do meu corpo e de minhas ansiedades mais profundas. Chorei muitas lágrimas e senti todo o tipo de sentimento que podemos ter: raiva, gratidão, cansaço, força, dor física e também moral. Enfim: aprendi com essa experiência que a gente não controla a vida. Que as coisas nem sempre acontecem da forma e no momento que a gente quer, mas que são esses momentos que nos trazem força e serenidade para seguir em frente.
Depois de muitos meses nas tentativas, resolvemos pedir ajuda e seguimos para um tratamento de fertilização in vitro. Fizemos apenas a primeira etapa do processo e ainda faltam muitos passos. Temos 2 óvulos de qualidade congelados, aguardando a continuidade do meu tratamento (que explicarei em detalhes em outra oportunidade). E a cada dia seguimos aprendendo.
Foram muitos erros e muitos acertos nessa trajetória. Mas o principal foram os aprendizados, que continuam acontecendo. E essa vontade enorme de compartilhar a minha história com outras mulheres, que assim como eu, estão passando pela mesma experiência. Ela é dura e difícil, mas quando compartilhamos nossa dor, e contribuímos de alguma forma para a dor do outro, fica mais fácil a gente seguir em frente.
De mãos dadas! E confiantes que, no final, dá tudo certo!