Eu li muito, muito mesmo sobre maternidade durante a gestação do Felipe. De certa forma me considerava uma mulher bem informada. Comecei a buscar informações sobre amamentação, sono, pós-parto. Nada do que eu lia fazia sentido para mim. Nada. Eram sempre orientações condicionando a criança para que ela tivesse comportamentos que os adultos esperam delas. Sendo que são apenas bebês, sendo bebês, se comportando como bebês.
Às vezes chego a ter a sensação de que perdi muito tempo com leituras desnecessárias (um beijo, Encantadora de Bebês!) e que não se enquadravam nas premissas nas quais eu intuitivamente acreditava mas não alcançava por falta de conhecimento (Dr. Carlos Gonzalez, amor eterno, amor verdadeiro <3).
Então eu sinto muito, muito mesmo de não ter sido apresentada antes a tanta informação bacana que tive acesso com mães incríveis de uma geração porreta com a qual eu tive a honra de dividir o puerpério e o início de vida do Felipe.
Nada mais é do que voltar aos nossos antepassados, mas embasada em informações e estudos científicos que atestam os benefícios dessas práticas para a vida adulta dos nossos filhos. Quando foi mesmo que começamos a nos separar dos nossos filhos? Que achamos que a relação do casal é mais importante do que a da família que estamos começando a construir?
Ao longo dos anos foram criando cada vez mais artifícios para que as crianças se distanciassem dos pais. Não obstante, todas essas práticas se associam a consumos excessivos e desnecessários.
E isso, pelo menos para mim, não faz sentido. Foi então que comecei a repensar tudo que tinha visto. Muito do que tinha comprado, do que achava necessário. E veja bem, aqui vos escreve uma pessoa que está bem distante de qualquer adjetivo que possa me classificar como hippie ou algo parecido. Não sou absolutamente desapegada de bens materiais, mas tenho tentado me tornar mais consciente como exemplo para o meu filho, para o mundo e principalmente, para mim.
Aqui não faço julgamentos, mas convido à reflexão. Claro que cada um deve escolher o que se adequa à sua realidade, às suas verdades e às suas possibilidades. São escolhas muito particulares, que exigem muita renúncia da nossa parte, mas que julgo extremamente necessárias. Fiquem à vontade para discordar, refutar até porque nada aqui é um manual de criação de filho. Pelo contrário: é como eu acho que Felipe deve ser criado para reduzir inseguranças emocionais na vida adulta, medos, frustrações desnecessárias. Pode dar certo ou não. O mais importante é ter informação, coerência e acreditar nas nossas escolhas com embasamento.
Algumas reflexões…
O Parto
Não é somente uma escolha entre normal, natural ou cesárea. Há uma infinidade de possibilidades para uma criança vir ao mundo e algumas me parecem sim mais respeitosas do que outras. Esperar o trabalho de parto, o corpo se preparando para receber aquele bebê. Aguardar o momento no qual o bebê entende que está preparado para nascer. A criança passar pelo canal vaginal, com todas as “massagens” que podem prevenir, inclusive, refluxos – como Felipe teve nos primeiros três meses -, recebendo a primeira imunização ao ter contato com a flora da mãe. Um ambiente mais escuro, sem as luzes de um centro cirúrgico para um bebezinho que acabou de sair do útero e nunca teve contato com claridade.
Mas infelizmente atualmente no Brasil para quem quer esse tipo de parto o caminho é o SUS – quando muitas vezes as mulheres passam por violências obstétricas como fórceps e epsio (o corte na lateral da vagina) – ou doula, enfermeira obstétrica e obstetra particulares. Muitas mulheres, como era o meu caso, não podem dispor do investimento necessário para essa preparação. E a culpa disso não é dos médicos, mas sim de todo o sistema. Para que um médico possa fazer parto normal é preciso que ele fique à disposição da gestante e isso implica muitas vezes em desmarcar todo um dia de consultório. Claro que alguns médicos que atendem pelo plano de saúde fazem parto normal, mas é bem difícil encontrar essa opção.
Então vamos seguir na luta para que o parto natural volte a ser o normal. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece em até 15% a proporção recomendada de partos por cesariana, no Brasil esse percentual é de 57%. As cesarianas representam 40% dos partos realizados na rede pública de saúde. Já na rede particular, chegam a 84% dos partos. A cesariana é uma cirurgia muito importante, salva vidas, mas não pode ser eletiva.
No meu caso, além da questão monetária, acrescentava-se a da cirurgia para correção de CIV que já falamos neste post e neste sobre cardiopatia congênita. Resolvi seguir as recomendações médicas tanto da cardiologista quanto da obstetra que me acompanhavam.
Acabei fazendo a cesárea, mas tenho plena convicção de que o parto natural poderia ter evitado por exemplo o baby blues no puerpério e facilitado o início do aleitamento materno.
Mais sling, menos carrinho
O contato da pele da mãe com o bebê é fundamental nos três primeiros meses e o sling ajuda MUITO. Costumo dizer que só o sling salva. Aqui já falamos sobre a Teoria da Extrogestação e mostramos que quanto mais proximidade, melhor. Então vamos deixar os carrinhos para os passeios externos mais longos e usar e abusar dos slings. Ainda com a vantagem de facilitar bastante a locomoção e os afazeres domésticos. Lavei muita louça com Felipe no sling! Mas também dançamos muito, cantamos muito. Boas lembranças do meu pequeno coladinho em mim!
Chupeta não é essencial
Várias vezes me falavam que Felipe não estava mamando e sim “chupetando” o peito. E eu sempre perguntava qual era o problema disso. Nenhum!! A criança pode e deve chupetar o seio da mãe. Peito não é só alimento. É carinho, proteção, segurança, intimidade. Inserir um bico artificial só vai atrapalhar a pega na amamentação além de uma série de malefícios ortodônticos que valem um post a parte. É difícil uma criança o dia inteiro com necessidade de sucção? Sim! Eu mesma no auge do desespero cheguei a comprar todas as chupetas da farmácia, da mais cara à mais barata. Hoje vejo quanto dinheiro e energia desperdicei tentando com que ele pegasse a chupeta só porque se convencionou que acalma a criança. O que acalma a criança é colo. É contato.
Não precisa de mamadeira
Gastei uma baba em uma coleção completa de mamadeiras Avent com bico pétala. Nunca usei nenhuma. Na verdade usei para armazenar meu leite no freezer. Eu me recusei a dar fórmula, esperei a produção estabilizar e seguimos até aqui com um ano e cinco meses de amamentação exclusiva. Essa foi uma das informações mais valiosas que tive no puerpério: não ofereça nenhum bico artificial, tenha paciência até a produção se estabilizar. Quando Felipe foi para a creche, aos seis meses, oferecíamos o leite na colher dosadora e água no copinho. Hoje ele até usa os copinhos de transição e um bico mais rígido que acoplei na mamadeira para beber água durante o dia, mas a verdade é que eu não precisava ter feito esse investimento em mamadeiras. Na minha inexperiência eu achava que era um item indispensável no enxoval, que todo bebê precisaria, mas a verdade é que não precisamos. Talvez hoje eu tivesse comprado apenas uma para emergências.
Amamentação prolongada até 2 anos
Mais uma escolha com base científica. A amamentação é necessária como complemento até os 24 meses, mesmo que a criança coma de tudo. A recomendação é da Organização Mundial da Saúde, que lista entre os benefícios a imunização natural, combate a doenças e até mais sinapses cerebrais e aumento de QI das crianças amamentadas com leite materno até essa fase, pelo menos.
Fraldas de pano (ou sustentáveis)
Mais uma da série desconhecimento para mim. Quanto lixo produzimos nestes últimos dezessete meses com fraldas descartáveis? Quando conheci as fraldas sustentáveis bateu um arrependimento imenso, mas eu tinha acabado de fazer o Chá de Fraldas do Felipe. As fraldas sustentáveis são lindas, modernas, lavam na máquina, se ajustam ao tamanho da criança e pela experiência das amigas que usam valem cada centavo investido. O nosso estoque está acabando e agora vou investir em algumas sustentáveis até o desfralde. Também vou comprar uma para a piscina, já que Felipe faz natação duas vezes por semana. Infelizmente a creche não aceita as de pano, então vou manter algumas descartáveis para a escola e para a troca noturna. Depois conto aqui como foi a experiência.
Introdução alimentar aos seis meses
Por uma série de explicações: é a partir daí que a criança senta e sustenta o pescoço (reduzindo o risco de engasgos). Também é quando é necessária a introdução de alimentos, já que até o sexto mês a amamentação materna supre todas as necessidades infantis. E, em geral, é quando a criança começa a se interessar por comida. A introdução precoce que a maioria de nós teve na infância tem origem no retorno da mulher ao mercado de trabalho. Além disso, também é associada a diversas alergias que o bebê pode desenvolver. Hoje sabemos que A CRIANÇA NÃO PRECISA COMER ANTES DE SEIS MESES, NEM TOMAR ÁGUA, NEM CHÁS. O leite materno supre todas as necessidades até essa idade.
Comida de verdade e nada de açúcar até os 2 anos
Já falamos sobre introdução alimentar também, mas devemos ir além, falar em formação de paladar e de como as escolhas na primeira infância podem prevenir doenças e impactar na vida adulta. Vamos priorizar comidas de verdade, frutas, legumes, verduras. Temperos caseiros, sem sal até o primeiro ano pelo menos. O açúcar – e aqui estão os queijos processados aromatizados artificialmente, gelatinas e geleia de mocotó – não traz nenhum benefício, vicia e atrapalha o convite a conhecer os alimentos. Papinha industrializada somente em último caso. Já dei para Felipe, mas pouquíssimas vezes. São pobres em nutrientes. Se for ler o rótulo com atenção o ingrediente principal é batata. Ou seja, não traz nenhum benefício nutricional para as crianças.
Cama compartilhada
Até os três meses Felipe dormiu em um Moisés ao nosso lado da cama. Depois foi para o quartinho dele, onde ficou até os dez meses. Desde então dorme comigo na cama. Ele acostumou e eu também. Como ele ainda acorda para mamar, para mim é mais fácil que ele esteja ao lado, porque mama dormindo (em média três vezes por noite) e eu muitas vezes amamento dormindo também. Então consigo descansar mais, já que trabalho o dia inteiro e preciso dormir! Neste momento estamos tentando a transição para que ele volte a dormir no quartinho dele, mas confesso que talvez a dependência de dormir grudadinha no bebê seja mais minha do que dele. Estamos esperando que ele comece a andar de maneira firme para transformar o berço em caminha ou até mesmo partir para a cama montessoriana, no chão – ideia que me agrada muito. Mas ele sempre será bem-vindo na nossa cama. Dormi muitas vezes com os meus pais na infância e só tenho boas lembranças. Por que furtar Felipe desta sensação?
Montessori como pedagogia
Sou apaixonada pela filosofia desde a adolescência. Minha mãe é psicóloga e teve uma escola que seguia essa linha. Estimula a autonomia, independência e criatividade da criança. Já falamos sobre o quarto montessoriano, mas vai muito além disso. É inserir a criança nos cuidados da casa, estimular contato com animais, hortas. Livros infantis devem ter fotos de animais reais e não ilustrados. Enfim, toda uma metodologia para que a educação se desenvolva com base na criança, não o contrário.
Disciplina positiva
Não é permissiva, mas sim uma reeducação nossa como pais para que possamos ser mais assertivos com os nossos filhos, que também já abordamos por aqui. Criação com base em respeito e empatia, oferecendo segurança emocional à criança que vai impactar por toda a vida.
Não estimular a alfabetização precoce
Crianças precisam correr, pular, rolar, rodar, rir. Vamos respeitar o tempo da criança. Pode até ser engraçadinho (eu não acho) a criança que lê com 4 anos, que forma palavras. Mas nessa fase ELA NÃO PRECISA DISSO. E alfabetizar precocemente pode causar problemas irreversíveis que vão desde atrapalhar a alfabetização de fato a desinteresse, stress infantil e agressividade. Vamos deixar que as crianças sejam crianças.
Telas, se usadas, com moderação
De acordo com a Academia Americana de Pediatria (AAP), as últimas pesquisas têm apontado que expor o bebê a muita televisão, celular, entre outras telas, contribui para o atraso da fala, faz com que no futuro a criança tenha maior dificuldade de alfabetização e também tenha problemas de memória. Até mesmo o sono e a capacidade de prestar atenção podem ser afetados por muito tempo de televisão. O ideal é que a criança não veja telas até os dois anos. Sei que é difícil e por aqui fracassei! Com cinco meses Felipe começou a ver Galinha Pintadinha e Bita, mas nunca fiz a televisão de babá. Como ele precisou eventualmente ficar com outras pessoas quando eu precisava me ausentar, infelizmente eu não tinha como monitorar. Evitamos ao máximo – ele tem um tablet, que damos apenas quando está muito irritado em viagens porque ele odeia trafegar de carro, mas só quando esgotamos nosso repertório de músicas, livros e outros brinquedos para distração. Hoje ele assiste cerca de meia hora pela noite, quando chega da creche. Inclusive a nossa opção por colocá-lo na creche foi para evitar que ele ficasse com uma cuidadora em casa com a televisão ligada o dia inteiro.
Essas escolhas fazem sentido para você? Conta para a sua experiência para a gente!
