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Diga não à alfabetização precoce

por Thainá Halac

Felipe vai completar dois anos em fevereiro e não sabe as cores. Não conta os números até 10. Quiçá reconhece o seu nome escrito em algum lugar. E sabe o que acho disso? Ótimo! Porque não estou preocupada com esse tipo de desenvolvimento, pelo contrário: quero que até os seis anos ele rasgue o papel, sinta texturas diferentes, encaixe formas, desenvolva a habilidades motoras finas e grossas e socialize com outras crianças. Brincar de massinha, por exemplo, pode parecer uma brincadeira boba mas é extremamente importante para que a criança trabalhe os punhos para a futura alfabetização.

Não ter livro didático na primeira infância foi crucial para o processo decisório de qual escola eu matricularia meu filho. Não queria que antes de 6 anos ele estivesse comprometido com dever de casa, saber o nome de figuras ou objetos. Tudo que ele aprender até aí será estimulado de forma empírica.

A alfabetização precoce causa malefícios a longo prazo, que comprometem toda a formação do aluno. Pode ocasionar problemas como sobrecarga, deficiências na coordenação motora, apatia, desinteresse, desmotivação e estresse. Mas nada disso é tão grave quanto o desaparecimento da infância. Até os seis anos, o mais importante é brincar livremente para desfrutar o que pode da primeira infância, que dura tão pouco. Claro que algumas se interessarão pelas letras espontaneamente. Que isso seja tratado como brincadeira, então.

Acelerar a aprendizagem na esperança de uma melhor formação para o futuro é ilusão e equívoco. O filósofo e educador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) defendeu em 1919 a pedagogia Waldorf, na qual os pequenos teriam apenas uma responsabilidade na escola até os 6 anos: brincar. Ao participar de jogos e atividades lúdicas, meninos e meninas desenvolvem diversas habilidades, entre físicas e motoras, além de um estímulo essencial para a vida: a confiança. Segundo a teoria, nessa fase o aluno tende a gastar muita energia e se prepara fisicamente – isso é fundamental para o seu desenvolvimento neurológico e sensorial. Tais capacidades refletem em domínio corporal, linguagem oral e, principalmente, contribuem para a inteligência da criança.

A alfabetização é um processo e a criança precisa vivenciar experiências sensoriais até ter maturidade cognitiva, perceptiva, auditiva e visual para começar a identificar letras e formar palavras. Além disso, dominância lateral – como já abordamos nesse post aqui – e desenvolvimento motor, que só são adquiridos após os seis anos de idade.

Importante mesmo é ler para o seu filho. Leia desde sempre, porque assim ele será estimulado a adquirir o hábito também, terá um vocabulário maior e facilitará muito a alfabetização e a interpretação os textos em etapa futura. Já ouviu dizer que só quem lê muito escreve bem? Então em vez de estimular a alfabetização, vamos incentivar a leitura, que ainda favorece a criatividade, o lúdico e a imaginação!

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