Eu amamentei minhas filhas gêmeas até os 5 meses. Nunca fiz aleitamento materno exclusivo. Elas nasceram com pouco mais de 2 quilos e, em razão desse baixo peso, precisávamos acordá-las de 3 em 3 horas (noite e dia), durante os 3 primeiros meses para amamentá-las para que ganhassem peso. Por volta do quarto mês, a produção de leite começou a diminuir. Queria tentar por mais tempo, até os 6 meses, mas com 5 meses, elas sugavam e pouco leite saía. Não fez mais sentido para mim (e nem para elas) e parei de amamentar. Sem sofrência.
Não tenho dúvidas que a amamentação é uma escolha acertada. Que deve ser a primeira opção quando se trata de alimentação de um recém-nascido. Mas me preocupa os discursos extremistas que impõem a amamentação como o único caminho viável, a ser conquistado no estilo “custe o que custar”.
A frase “Todo mundo consegue, se quiser” se espalhou por aí e impôs mais um padrão a ser seguido. Um padrão que, como qualquer outro, desconsidera a unicidade de cada pessoa. Cada mulher é única, tem a sua história, o seu organismo, suas características e recursos. Espalhar essa frase como uma verdade é ser cruel com quem não consegue, tentando muito ou tentando pouco. É ser cruel com quem acaba indo além dos seus limites, por acreditar que o aleitamento materno é a única alternativa.
Amamentar não é competição. É saúde, é bem-estar. Do bebê e da mãe.
Amamentar é incrível quando mãe e bebê estão bem. Mas quando é fruto de insistência desumana e um esgotamento de recursos, não faz o menor sentido.
As dificuldades no início desse processo são mais comuns do que gostaríamos. E, às vezes, a amamentação é menos natural do que lemos por aí. O bico machuca, arde, o leite empedra e o esgotamento, físico e emocional, pode ser demais.
Ouço e leio alguns relatos onde percebo que as mães estão arrasadas por não conseguirem aleitar os seus pequenos. Mães que se sentem fracassadas, levando ao extremo a recomendação de amamentação pela OMS (Organização Mundial da Saúde), como se essa fosse uma questão de vida ou morte do bebê.
Como se o bebê que não é amamentado no peito não fosse desenvolver vínculos com a mãe.
Como se o bebê amamentado na mamadeira fosse condenado a se desenvolver menos do que se tivesse mamado no peito.
Como se o bebê que só tomou mamadeira fosse ficar mais doente, apenas por esse fato.
Não, a equação não é essa. Minhas filhas desenvolveram fortes vínculos comigo. Estão no desenvolvimento médio para a idade e pouco ficaram doentes nesses 3 anos. E, sim, isso também não é uma regra.
Por isso, se uma amiga que estivesse enfrentando problemas com a amamentação viesse se aconselhar, eu diria: se informe e procure ajuda. Tente o tempo que fizer sentido para você. Se ainda assim, não estiver sendo natural, prazeroso e, no mínimo, tolerável para você, desista. Não há mal em desistir. Isso não faz de você uma mãe pior. Você é livre para fazer suas escolhas!
A amamentação não precisa ser levada além dos seus limites. Não há sentido em amamentar quando não faz sentido para você. Quando você sofre além do razoável. O amor importa mais do que o alimento. Mais vale uma mamadeira dada com amor, do que um peito dado com tristeza.
Para deixar claro, sou favorável à amamentação sempre que ela faz sentido para mãe e entendo que essa é uma escolha dela.
Já escrevemos bastante sobre o assunto por aqui:
Mãe que amamenta pode ingerir bebida alcóolica?
Como amamentar gêmeos: dicas, dificuldades e posições de amamentação
Por que a amamentação cruzada é contraindicada?
Amamentação exclusiva: dicas para você conseguir!
Agosto: o Mês Dourado da Amamentação