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Seja abrigo de uma mãe no puerpério

por Thainá Halac

Moro em um prédio pequeno e a Ana era vizinha do apartamento embaixo do meu. Até então nunca havíamos nos falado e eu sequer sabia o nome dela. Sabia o nome do filho, que à época que Felipe nasceu, tinha um ano e meio, e sempre fazia uma gracinha quando o via. Nunca nos cumprimentamos além dos cordiais bom dia, boa tarde e boa noite. Ela não tinha acesso às minhas redes sociais. Nunca falamos sequer sobre amenidades.

A Ana trabalhava em casa. A Ana provavelmente ouvia o Felipe chorar durante o dia com cólicas. A Ana ​devia ouvir o “som do útero” que eu colocava nas alturas (perdão!) para hipnotizar meu filho e tentar com que ele dormisse quando despertava durante a madrugada. Talvez ela ouvisse meus passos de um lado para o outro no corredor tentando com que ele se distraísse e voltasse ao sono. A Ana me via entrar e sair do prédio com um bebê de um mês e oito quilos no braço todo arrumadinho e eu, após a maternidade, sem um pingo de maquiagem e o cabelo ​quase sempre preso em um coque​. A Ana viu as minhas olheiras.

A Ana me percebia por trás de tudo isso. A Ana é mãe. É mulher. E foi generosa em um nível que jamais imaginei que ela pudesse ser. Quase um mês depois do nascimento do Felipe, ela deixou um bilhete na minha porta. Nele ela dizia que me acolhia, que me entendia, que se precisasse ela estaria ali, no 201, para conversar , comer um bolo, tomar um café, ou segurar o Felipe enquanto eu tomava um banho no meu tempo.

Ela nomeou o puerpério para mim. Segurou na minha mão por meio de palavras no momento em que eu precisava tanto de colo quanto Felipe. Ela sabia da solidão que eu sentia, da minha exaustão.

Eu nunca a pedi nenhum favor, mais por falta de oportunidade mesmo. Mas só de me sentir abraçada e apoiada desta maneira já me fez sentir mais tranquila. E esse foi o melhor presente que ela, até então desconhecida, poderia ter me dado naquele momento.

A Ana sabia, por experiência própria, que aquela Thainá de outrora morreu, que eu vivia um misto de luto com êxtase, de cansaço com felicidade. Ela já tinha passado por isso e não fingia que não foi difícil.

A Ana se mudou logo depois. E eu não tenho nenhum contato dela, mas queria um dia encontrá-la e dizer muito além do meu “muito obrigada”. Queria dizer do bem que a atitude dela fez a mim e que o mundo precisa de mais mulheres como ela. E que isso não é somente empatia. É sororidade.

Desde então, busco fazer o mesmo com as mães ao meu redor. Menos palpites, menos julgamentos, mais acolhimento.

Quer um mundo com mais Anas? Espalhe esse texto por aí!

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