Muito antes de engravidar, eu e Alexandre fomos a um casamento na Espanha e acabamos ficando sozinhos no apartamento do primo dele, que mora na cidade. Ele e a Bea têm duas filhas, que à época deviam ter 6 e 4 anos.
Foi a primeira vez em que entrei em um apartamento e senti a diferença de uma casa com e sem criança. Estava tudo arrumado, em seus lugares, cada boneca milimetricamente descansando no quarto. Mas a casa tinha vida: desenhos feitos pelas meninas colados com imãs na geladeira, uma pequena lousa ao lado do fogão com casinhas coloridas feitas a giz. Em cada cômodo da casa sentíamos a presença das crianças e de como isso tornava aquele local leve e agradável.
Anos depois, quando engravidei do Felipe, a minha casa continuava um brinco. Primeiro, um carrinho de bebê se instalou ao lado da mesa de jantar. Depois, foi o moisés ao lado da minha cama. O quarto dele, todo arrumado, com tudo em seu lugar, aos poucos ganhava os toques do dono do pedaço: pequenos brinquedos espalhados pelo tapete, o piso de taco coberto por placas antiderrapantes, roupinhas minúsculas nas gavetas, aquele cheiro inebriante que só os produtos de bebê conseguem ter.
Hoje vivo esbarrando em bicicletas, patinetes, miniaturas de carros, livros abertos, peças de lego. Já pisaram em uma pecinha dessas? Gente, é saber como ir à lua e voltar de dor.
Mas a risada é a reação inevitável em seguida, quando a gente relembra da criança brincando e descobrindo o mundo, encaixando e desencaixando peças.
A casa com criança tem mais cor. Mais alma. Tem mais vida. Mais bagunça também, mas quem se importa quando a troca são sorrisos genuínos, bracinhos ávidos e gritinhos estridentes?
Recomendo muito mais ter uma casa com pequenas peças pelo chão do que uma capa de revista milimetricamente planejada e sem esses protagonistas especialistas em dar um novo sentido até ao que chamamos de lar.